O Amor, em partes.
Nietzsche diz que o único amor que existe é o amor próprio. Não amamos, portanto, o objeto amado, mas aquilo que ele nos faz sentir. Amaríamos, então, o desejo, a saudade, a felicidade, a plenitude? Seria egoísmo demais, como sugar do outro as energias; aproveitar-se de sua complacência.
Os gregos dividiam o amor em dois sentimentos distintos: Eros e Philia. Eros é a falta, a paixão e o desejo ao inalcançado, o amor que quer prender, talvez até egoísmo. Philia é a alegria de amar, de compartilhar, capaz de ceder. Eros sem Philia se assemelha a definição de Nietzsche já citada. Philia sem eros é o que os gregos chamavam agapè: caridade, dedicação exclusiva ao próximo.
Talvez eu não seja capaz de acreditar em um mundo sem amor. Meu ceticismo não vai longe a ponto de negar que existem sentimentos elevados entre os seres humanos. Ergo novamente a voz de tantos outros: o amor existe sim! Recorro a Espinoza para afirmar que não se pode viver sem amor: "Em razão da fragilidade de nossa natureza, sem algo de que gozemos, a que estejamos unidos, e porque sejamos fortalecidos, não poderíamos existir".
Porém, essa mesma fragilidade que nos faz amar, nos condena à instabilidade. Os amantes estão fadados à certeza e à dúvida; ao temor a à coragem; à plenitude e à insatisfação.
Não há amor em excesso, nem escasso demais. Pode haver indiferença ou apenas falta de equilíbrio. É preciso que Eros e Philia coexistam em mesma intensidade. Amar a si próprio ou demasiado ao outro não é amar de verdade. Quem diria o amor ser formado por egoísmo e caridade em partes iguais?
A Ju Violetine:
Texto de André Comte-Sponville adaptado:
O que é o amor? Espinoza dá esta bela definição: "O amor é uma alegria acompanhada da idéia de uma causa exterior." Amar é regozijar-se de.
O amor, para Platão, não é primeiramente uma alegria. O amor é falta, frustração, sofrimento: o que não temos, o que não somos, o que nos falta, eis os objetos do desejo e do amor."
É preciso amar o que não temos , e sofrer com essa falta; ou então ter o que não falta mais ( já que o temos) e que por isso amamos cada vez menos (já que só sabemos amar o que falta). Sofrimento da paixão, tédio dos casais. Ou então é preciso amar de outra maneira: não mais na falta, mas na alegria, não mais na paixão mas na ação _ Não mais em Platão, mas em Espinoza. Te amo: sinto-me feliz porque existes. Todo casal feliz, e apesar de tudo existem alguns, é uma refutação do platonismo.
Rebeca Buendía.
Assim, talvez, o amor seja realmente o tal paradoxo: formado por partes aparentemente contrárias, mas que se complementam..?
ResponderExcluirTexto Nietzschiano!
Procure assitir programinhas de domingo na TV, pra ver se enburrece um pouquinho e mantém a sanidade :}
Cecília