terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Desinspiração. [ou Das Perdas Humanas]

vi duas
videiras
voando
vivazes
velozes
velasquez
van gogh
bonfim
viraram
vertigem
vieram
voltaram
voaram
viveram
ficaram
sem mim
aonde
se foram
aquelas
verduras
verdes
viagens
daquele
jardim?
vitória
vagando
valendo
vingando
você já
se vai?
[eterno
querubim]
-
Maria inspirou. Maria lapidou. Maria argumentou. Maria sugeriu a postagem.
Quem sou eu para lhe negar um pedido?
Um beijo para ti!
-
Voss

Dois Esses [SS]



Talvez o que se sabe

só seja sabido sem saber

que não se sabe.

Talvez sejamos sorvetes sem coberturas

tão-somente

serenidades.

*

E talvez não seja, assim,

tão sensacional

a sensação de se sentir

sem ter,

sem saber,

sem satez,

simplesmente por não ser

sobretudo,

solitário.

*

É só. Assobio,

Serenata.

Seresta.

Sarau.

Sal,

e Sol. Espetáculo.

Sincera? Sim, será? Sei lá.

Não se sabe:

só se esquece.

Some.

*

Sente...

Sempre por amor,

somos. Sentimos. Saudades.

*

Suaves.

*

Você sabe...

... Sou seu.

-

-

-

-

-

PS: Não me recordo da data, uma pena. Mas adoro. Agradecimentos especialíssimos a dois amores de minha vida: L. e T., que selecionaram - não palpitei NEM um pouco - a foto.

-

PPS: se alguém puder, por favor, me dizer como se pula linhas aqui sem uso de artifícios - leia-se: asterisco e hífen - eu ficaria realizado! rs

-

PPPS: obrigado por existirem! =)

-

Voss.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Viver

Vim ver

o viver

em você.

Viver

via ter

vida

via ser

alma

ou via

transcen

der

a dor

se der.

Vi, porém,

apenas

viver

de versos.

Versos

que vivem

são

têm

doem

em mim

em ti

em nós.

Versos

de vida

ainda que

mal-vivida.



*



Vivam.

Como a

videira

e o vinho.

Vivam.

Como o

vocal

e a voz.

Vivam:

o poeta

e o verso.







Maria.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

De volta ao lar


Abriu os olhos: vazio. As paredes brancas do sanatório pareciam despertá-lo para o pesadelo.

Não acreditava que mais uma vez teria que conviver com as araras nos corredores, a enfermeira azul ou aquelas pequenas cápsulas de tungstênio que lhe obrigavam ingerir. Sem falar nas uvas desenhadas nas paredes. Durante a noite, elas tomavam forma de morcegos gigantes e voavam pelo alto da Capela Sistina.

Não conseguia lembrar o motivo para estar ali novamente. Que mal teria feito novamente? Ora, fora injusto confiná-lo ali pela primeira vez só por, inocentemente, ter ele brincado com as cadeiras da varanda- embora elas latissem. E pela segunda vez, por ter abocanhado o cotovelo de sua irmã mais nova.

"Desculpe, mamãe, por um momento, eles pareciam pizzas em formato de cone..."

Mas isso era passado! Já recebera alta. Estava curado. Queria apenas recordar-se do que podia ter feito de mal para receber tal castigo. O incidente com as cartas falantes de baralho, talvez? Não, não, muito inocente. A dança com os machados flutuantes? Talvez papai tenha se assustado com utensilios gastronomicos pelos ares...

Pensava, pensava. Nenhum vestígio de motivo para estar ali novamente. Estava completamente saudável e recuperado para o convívio em sociedade - apesar de, fora de casa, estar exposto a tantos olhares. Aqueles olhos pareciam mariposas em uma grande nuvem de fumaça. Mas, com o tempo, percebeu que seus olhos podiam caçá-las. Como uma capa de livro que vira uma vez, de um menino com uma redinha caçando borboletas.

De súbito, vieram. Recordações embaralhadas em sua mente cheia de fantasia finalmente pareciam bater em seu globo ocular.


Seu crime: Vender pastéis em um carrinho de rolimã.

Sua vítimas: Três abelhas - Clotilde, Madalena e Regina.

Sua sentença: Morte por sucção de DNA em uma clínica de auto-escola em Turquesa.


Então, em um momento único de sanidade, percebeu que, apesar do terror, estava onde devia estar.

"Lar, doce Lar."







Dra. Manuela.

sábado, 12 de dezembro de 2009

SMS (ou: Tratado das Felicidades Humanas.)



[Transcrito de uma mensagem que enviei para L..., não faz muito tempo.]
[Agradecimentos especiais a P..., que me ajudou a escolher a foto precedente.]
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A felicidade às vezes me lembra uma bolha, dessas de sabão mesmo. Voa livre sobre o verde dos prados. É bela, brilhante, graciosa.

E frágil. Sempre estourando e sumindo de nossos olhos. Sempre um querendo perfurá-la com o dedo. Não faz mal: basta um sopro para tecer uma nova sensação, uma nova liberdade.

Os meus amigos, estes são o meu detergente de cada dia.
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-
[Obrigado, detergentes da minha vida! Amo muito cada um de vocês!]
-
Voss

Segunda Avaliação de Cálculo II

O texto que segue é baseado em fatos reais.



Sentou-se, com aquela ansiedade quase pré-vestibulanda.
Encarou o professor, e viu seus olhos apontarem para uma pilha de folhas na primeira carteira da classe. Levantou-se, dirigiu-se à pilha, pegou sua prova e sua folha almaço.
Retornou ao seu lugar. Sentou-se novamente. Abriu a prova. Primeira questão:
1)Considerando a função dada, determine sua direção de crescimento máximo a partir de (0,0).

Sem saber o que fazer, avançou à segunda questão:
2)Considerando a função dada, determine seus pontos críticos, classifique-os, e determine seu determinante hessiano.

Outras vez, não sabia resolver o que fazer. Ainda esperançoso, partiu à questão 3:
3)Calcule a integral dada fazendo suas devidas mudanças de variáveis.

Nosso bravo guerreiro, mesmo sem saber a matéria, iniciou o processo de desenvolvimento algébrico. No entanto, não eram números que se passavam por sua mente. Vinham apenas palavras, filosofias, frustrações.
Eis, finalmente, sua segunda prova de Cálculo II:


Segunda avaliação de Cálculo II
Quer saber o que aprendi quando estudei?
Só o quanto eu não sabia, e ainda não sei.
A verdade é que ainda não me acostumei
à dura realidade da efei.
E o pior de tudo é ser forçado a aprender
coisas com as quais não terei de conviver.
Afinal de contas, as contas já deixaram de ser,
depois que algum babaca inventou a HP.
Aí pergunto a você - que provavelmente também acabou de se foder:
Cálculo II pra quê?
Pra perder noites de sono, de poker, de festa,
e o que nos resta?
Um conhecimento que pouco nos presta.
Pouco, pois é logo descartado,
assim que enxergamos a palavra "aprovado"
com nosso nome e matrícula do lado.
Mas hoje enxergo além do portal, além da semana e do exame final:
Estou reprovado, que posso fazer?
Caprichar e e passar nas aulas de DP.
E depois vou beber, me afogar num barril de chopp muito gelado, por horas a fio.
E um destilado num drink sutil, pra esquecer desse novo Brasil, esquecer de que vivi no Rio.
Hoje vivo adoidado, a cabeça a mil, suportando a dura realidade viril, por causa da grana, sucesso e mulherio, troquei o que amo por imenso vazio, viajando na prova, versando em prosa à la Gilberto Gil, a que ponto cheguei! Puta que o pariu!
-LG.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Maries Curies a terra do Carnaval

Brasil: terra do samba, das belas praias, dos biquínis pequenos em pernas bronzeadas, e da Tarsila do Amaral. Ao longo dos últimos cinquenta anos, percebemos certo contraste quando nos referimos ao mundo feminino: de um lado, amazonas armadas de conhecimento e bom-senso, na luta pelo reconhecimento de seu valor e competência; caregando a lança da independência financeira e o escudo da responsabilidade familiar. De outro lado, embora presentes em número cada vez menor, eternas garotas, independente de suas idades, que parecem se orgulhar de mostrar ao mundo o que significa o termo "mulher-objeto".
Inicialmente, nos anos 60, quando nos referimos ao processo de emancipação feminina, percebemos exemplos de amazonas como Leila Diniz e Olga Bernário nas capas de revistas, primeiras páginas de jornais. Nos dias atuais, porém, presenciamos uma luta silenciosa. Clarices Lispectors, Cecílias Meireles e Rachels de Queiroz furtivamente estudam seus livros, trabalham em seus ofícios, adquirem certo respeito, até conseguirem novos direitos, conforme vimos na criação da Lei Maria da Penha.
O indispensável para a sobrevivência social da mulher que vive no mundo contemporâneo, devemos ressaltar, é o bom-senso aliado à determinação para conquistar seus objetivos. A quebra da conduta imposta pela sociedade sobre como a mulher deve se comportar implica em consequências que nossas guerreiras devem saber assumir. No entanto, devem elas também saber ponderar se tais consequências compensam seus objetivos.
A mulher conquista seu valor e seus direitos a partir do momento em que expõe o que possui de melhor: suas idéias - e não apenas um belo corpo. É mentira dizer que toda mulher beneficiada pelas conquistas adquiridas nos últimos cinquenta anos lutou e mereceu-as. Ainda há muitas que precisam tirar as vendas do machismo e comodismo que as cegam. Contudo, de Pagu a Heloísa Helena, presenciamos uma discreta guerra que, a cada nova geração, podemos ver e dizer que valeu a pena.



De alguém que não aceita vestimenta inadequada no ambiente estudantil.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Mar brasileiro




Ó sertão semi-árido!
Quanto de sua secura hostil
São lágrimas do meu Brasil!?


Por te cruzarmos,
Quantos retirantes choraram,
Quantas esperanças em vão rezaram!


Valeu a pena?
Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena (disse o poeta).


Mas nossa murcha alma seca
Carente de águas límpidas
Preenchidas de rios de dor
Não vive:
Somente sobrevive.


Gaia

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Vazio

.












































.


(E ainda costumam chamar isso de arte!)


Bertha.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Síndrome Olfatória



Abriu então um largo sorriso, correu e envolveu num abraço aquela sua querida, seu anjo da guarda de carne e osso [e plenos corações]. Como se fosse o último carinho de sua vida, como só o abraço mais sincero e [sur]real pode ser.
*
Deixou-se relaxar e sentiu em suas narinas o odor adocicado de florezinhas do campo e frutas frescas, aquele cheiro suave de brisa, de ondas de mar e de areia fina. Cheiro de Sol de primavera e Lua de outono, cheiro da jabuticaba que ele costumava comer direto do pé, no sítio dos avós. Odor do som das folhas do canavial balouçando ao sabor dos pés-de-vento, e de pedra de cachoeira, e de terra molhada de chuva, e de pássaros amarelos cantando homenagens ao nascimento de um novo dia, e de cabelo perfumado ao sair de um banho regenerador. Sentiu-se bem. Sentiu que poderia ficar ali o dia todo, o tempo todo de sua vida.
*
Mais tarde, ele acabou descobrindo que isso se chama "cheiro de mulher".
*
*
*
- Lord Vossler York, but you may call me "Voss".

sábado, 5 de dezembro de 2009

Entrando em Clima Natalino

Sobre panetones: O que seria das frutas cristalizadas sem ele?
Nunca gostei daquelas coisinhas coloridas, altamente adocicadas e de textura macia. Sinceramente, acho que são apenas frutinhas prestes a entrar em estado de decomposição que a Bauducco consegue aproveitar. Melhor ainda - é uma idéia lucrativa!
Pegar várias frutinhas semi-podres, jogar um açúcarzinho, misturar uma farinhazinha e vender por 15$ uma quantidade que não sacia nem meu café da manhã...
Gostaria de conhecer o inventor da receita do panetone. Deve ter sido algum europeu, que viveu lá pelo século 17, mas muito inteligente o moço.
Mais inteligente ainda foi o moço que pegou a mesma receita, mudou o formato da massa e chamou de Colomba: não contente em aproveitar frutas velhas, ainda deu um jeitinho de aproveitar aquele resto de massa que sobrou dos panetones - afinal, páscoa e natal tem só três meses de diferença...
Mas clima de Natal é isso aí! Se nao podemos compartilhar, ao menos nao desperdiçamos! O que me faz pensar que aquelas bananas que estao na geladeira há uma semana podem virar uma ótima sobremesa para a ceia... Hm...

Viva a vida com Humor!



Maria.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Can['t] I?



Sabe o que acontece?

Acontece que minha Rerrevolução me trouxe por caminhos inóspitos, estranhos, alheios ao que não é humano. Acontece que por esses caminhos andei dias e noites a fio, tropecei em muitas pedras, odiei muitos Drummonds e muitas Lispectors, amei outros dele e outras dela; senti que o mundo ia acabar, senti que seria muito bom se acabasse mesmo. Acontece que achei uma moedinha de prata polida no chão, e joguei-a num la[r]go pro[ ]fundo do acostamento. Acontece... que não lembrava mais o que era o futuro. E acontece que essa viagem [maluca] me trouxe a um lugar menos belo do que eu quereria num verso, e menos horrendo que eu veria num [in]sonho. E então... Aconteceu. Eu descobri várias coisas que preferia ter deixado sob os lençóis apedrejados: acontece que eu não sou "eu" [,essa massa de carne ensangüentada, sem sabor, nem cor, nem calor]. Sou ele, sou ela, você, é, você mesm[o/a]: que nem imagina que eu penso em você, e que nem imagina que eu perco noites e noites e noites e noites e (...), pensando em você, e que nem sabe que eu me importo mais com você do que com minha [in][f]útil saúde física, e que nem sabe que eu não entendo dezporcento do que se passa a minha volta, confabulando uma vida futura que [, evidentemente,] só pertence à minha fertilíssima imaginação. E que não sabe, nem vai saber, que eu te Amo. Me desculpe, mas é a mais pura verdade. Não vivo sem você. Olho mil fotos suas, mil vezes cada uma, e mil vezes não acredito que possa existir algo assim tão belo. Mil vezes sonho com você, penso em você, vejo você, e cada vez parece nova, parece a primeira, e a última [em concomitância. Estranho, não?]. Então... bem, isso era tudo que eu tinha pra te dizer. Espero que você entenda, e não se preocupe comigo, apenas saiba que tudo isso é verdade.

Um beijo, e até a próxima.

de um Garoto Apaixonado.


[Lê. Retira a folha do caderno. Rasga-a. Reescreve. Corrige.]


Sabe o que acontece?

Acontece que eu te Amo. E não vivo sem você. Por favor, entenda...

Beijo.

Garoto.


[E sua vida, enfim, faz sentido.]





(Texto do mais novo Poeta Vivo das redondezas, que ficou honradíssimo e muito feliz com o convite. Muito prazer.)