caminhava eu dominganamente como se nao pertencesse a este lugar. De fato, nao pertenço. Mas não é o tempo ou a condiçao geografica que determinam a que coordenadas pertenço. É o ninho em si. Lar nao é onde estao as pessoas por quem sentimos afinidade, convivemos ou temos algo em comum. Coracionalmente, sinto-me mais em casa com indivíduos desconhecidos, diálogos passageiros e gestos de um futuro mundo do que em qualquer outra situaçao.
E foi aí que o segurança da rua resolveu me acompanhar. Claro, nunca é bom caminhar sozinha em cidade desconhecida onde 7 horas da noite parecem ser 3 da madrugada. Aceitei logo a proposta.
Nao nego ter sentido medo, logo de início. A rua era um deserto, os terrenos abandonados eram oportunidades.
Mas logo me senti confortada ao descobrir que meu segurança também era pai. É engraçado como certas informaçoes a respeito das pessoas nos fazem ter novos juízos a respeito delas. A situaçao em si nao mudara nada: continuava eu exposta, desarmada e sem testemunhas. Mas o senhora nada faria contra mim, afinal, era pai.
Continuei minha conversa com o pai. Agora ele me contava sobre sua família, sobre sua filhinha de 10 anos a quem provavelmente me lembrava. Parecia preocupado - que arte teria ela aprontado dessa vez? Contou-me sobre a paternidade, sobre uma mudança em sua forma de ver o mundo depois que surgiu uma criança em sua vida.
Desvendou-me um segredo: existem dois caminhos. Nao, eu nao estava perdida. Existe o bem e o mal. Existe a concepçao de futuro. Mariana havia entrado em sua vida para abrir-lhe os olhos. Nao, meu senhor não me estava fazendo apologia a nenhuma igreja, tampouco pretendia iludir-me com algum discurso benigno. Eu sentia que as palavras brotavam espontaneamente de seus lábios, sem intençao nenhuma.
Chegamos, enfim, a uma rua próxima a avenida principal, a qual deveria eu me dirigir para finalmente chegar em casa, em meu "lar". O senhor apenas disse-me para virar a direita, e nao se despediu.
Segui sua sugestão, peguei a avenida principal e nunca mais vi Nelson.