O texto que segue é baseado em fatos reais.
Sentou-se, com aquela ansiedade quase pré-vestibulanda.
Encarou o professor, e viu seus olhos apontarem para uma pilha de folhas na primeira carteira da classe. Levantou-se, dirigiu-se à pilha, pegou sua prova e sua folha almaço.
Retornou ao seu lugar. Sentou-se novamente. Abriu a prova. Primeira questão:
1)Considerando a função dada, determine sua direção de crescimento máximo a partir de (0,0).
Sem saber o que fazer, avançou à segunda questão:
2)Considerando a função dada, determine seus pontos críticos, classifique-os, e determine seu determinante hessiano.
Outras vez, não sabia resolver o que fazer. Ainda esperançoso, partiu à questão 3:
3)Calcule a integral dada fazendo suas devidas mudanças de variáveis.
Nosso bravo guerreiro, mesmo sem saber a matéria, iniciou o processo de desenvolvimento algébrico. No entanto, não eram números que se passavam por sua mente. Vinham apenas palavras, filosofias, frustrações.
Eis, finalmente, sua segunda prova de Cálculo II:
Segunda avaliação de Cálculo II
Quer saber o que aprendi quando estudei?
Só o quanto eu não sabia, e ainda não sei.
A verdade é que ainda não me acostumei
à dura realidade da efei.
E o pior de tudo é ser forçado a aprender
coisas com as quais não terei de conviver.
Afinal de contas, as contas já deixaram de ser,
depois que algum babaca inventou a HP.
Aí pergunto a você - que provavelmente também acabou de se foder:
Cálculo II pra quê?
Pra perder noites de sono, de poker, de festa,
e o que nos resta?
Um conhecimento que pouco nos presta.
Pouco, pois é logo descartado,
assim que enxergamos a palavra "aprovado"
com nosso nome e matrícula do lado.
Mas hoje enxergo além do portal, além da semana e do exame final:
Estou reprovado, que posso fazer?
Caprichar e e passar nas aulas de DP.
E depois vou beber, me afogar num barril de chopp muito gelado, por horas a fio.
E um destilado num drink sutil, pra esquecer desse novo Brasil, esquecer de que vivi no Rio.
Hoje vivo adoidado, a cabeça a mil, suportando a dura realidade viril, por causa da grana, sucesso e mulherio, troquei o que amo por imenso vazio, viajando na prova, versando em prosa à la Gilberto Gil, a que ponto cheguei! Puta que o pariu!
-LG.