Um dia você acorda com os intensos raios de sol queimando-lhe a face, e percebe que há um buraco profundo no peito, cavado arduamente, e valas profundas que te intragam ao engolir saliva da boca seca. Descobre que as circunstâncias, as emoções, as palavras, os sentidos, ficaram para trás. E, de alguma forma, seu corpo mundano deu passos mudos e sua alma permaneceu atrelada a um sopro de vida que já se foi.
Um dia. Ah, um dia! Questiona-se o motivo da existência. Esquece o abraço envolvente da religião, as doces ilusões das conquistas supérfulas e as resposta filosóficas dogmáticas. Olha ao redor. Todos caminham desisteressados na sua vidinha certa, e só você está parado. Os que vêm atrás passam por você sem mirarem seus olhos. Você procura alertá-los. Mas qualquer grito que saia do âmago de seu profundo peito é fragmentado e inteligível. É incerto. É medroso.
Checa as margens. Caminha receoso até elas.
E permanece.
Enquanto isso, o rio da vida corre incessante até sua foz.
Você decide fechar perenemente os olhos.
E permanece.
A. dos Anjos
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