Era o último dia de primavera e Luciana já perdia as esperanças de que seu pé de feijão brotasse.
Uma bomba explodia do outro lado do globo. Dizam as autoridades ser apenas um teste de armas, totalmente para fins pacíficos.
Não sei a que situação meu grau de drama assemelhava-se, sei apenas que estava comovida e queria dizer-te o quanto sentia pelo teu pesar.
Luciana tinha certeza de que seu experimento daria certo dessa vez. Estava na quinta série, e o projeto feijão - como seus coleguinhas de sala o chamavam - valia metade da nota de ciências aquele bimestre. Fizera tudo conforme o livro mandava: plantar o feijão em um copo, em algodão úmido, e deixá-lo em local de luminosidade moderada.
Abracei Luciana dizendo-lhe que sua preocupação era muito grande, desproporcional ao seu tamanho infantil. Luciana não me compreendeu, mas me beijou a face e por isso senti alívio imediato para minha preocupação proporcional ao meu tamanho médio, se me considerarem não mais tão criança assim.
Na televisão, os grandes homens continuavam a discutir uma possível guerra na Coreia. Por um momento, desejei que a Coreia se explodisse, mesmo. Ri de minha própria ironia vulgar, e depois me arrependi: mais pelo ridículo do que pela maldade.
Liguei-te com um peso grande no coração, tu não me atendeste, e era o último dia de primavera - que pena.
-Maria.
Fantastic.
ResponderExcluir