quarta-feira, 5 de maio de 2010

Rebeca Luz na vertigem da manhã


Era na manhã que seus cabelos já não tão lisos embarçavam-se aos pensamentos da noite anterior. Sonhos e preocupações sonâmbulas pairavam pelos ares e já tão cedo tinham cheiro de café fresco. Pediam adoçante.
Seu subconsciente escorria pelo ralo junto ao suor noturno de mais um descanso solitário. Rebeca tinha a impressão de ver nas bolhas de sabão os últimos detalhes de seus pouco desvendados sonhos - "Logo, sequer, lembrarei-me deles."
Sabia o quão perigoso pode ser um simples acordar. Desembaraçava a mente com auxílio de um pente e condicionador. Seriam seus frágeis fios espalhados pelo chão sinal de que até o que está na intocabilidade de sua mente condena-se a ser passageiro?
Pegou a toalha e, antes de enxugar-se, cheirou-a. Não possuía mais o cheiro de outrora, não possuía teu cheiro.
Rebeca esforaça-se para lembrar-se de ti. No entando, a cada noite que passa, uma nova manhã chega e, sutilmente, leva teus últimos sinais para junto da água suja de seu corpo, para o encanamento do condomínio Veríssimo, para os esgotos de Maceió, para algum rio ilegalmente invadido pela poluição urbana e, finalmente, deságua no oceano. Onde permanece.
Assim, afastas-te de Rebeca. Ela procura uma última lembrança do bravo homem que um dia a acompanhou buscando em um espelho a imagem da garota que um dia fora tua. Não reconhece a mulher que vê.
-Já não sou mais eu...
E pinga três gotas de leite em seu café artificialmente adoçado, pois é o único pensamento que insiste em invadir sua mente no momento.


-Maria.

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