Texto escrito e publicado em Agosto.
"A tarde talvez fosse azul
não houvesse tantos desejos."
Carlos Drummond de Andrade
"É mais fácil quebrar um átomo
do que quebrar um preconceito."
Albert Einstein
,não era só a vontade de estar junto e nomear cada fio de cabelo a nascer ou cair, mas o desejo de trasmutar-se em verme e adentrar, pela carne, o corpo, e vivenciar, em comunhão com aquela alma, o que aquele ser tão interessante e parecido vivia dentro de seu casulo.
As mãos eram admiradas pelos globos oculares, o porcelanato da pele parecia borbulhar em ebulição, produzindo bolhas que desprendiam a porcelana e expunham os músculos em uma descamação grotesca e comovente. O verme cresceu, devido à sua ardencia, e penetrou o corpo, uma vez que a carne estava exposta devido a ebulição, e vivenciou, mesmo que por poucos momentos, a sensação de integrar-se ao ser amado.
O nascer-crescer-viver-reproduzir-morrer, a ordem natural das coisas, a lei da procriação, o divino multiplicar-se, o crossing-over. Sentiam, ambos, o portal do inferno se abrir e abrir seus poros, minas do suor pecaminoso jorrado pelo fogo da paixão anti-cristã.
O prazer expelido pela contraditória natureza, a qual é tão capaz de ceder tentação e desejo para o que é considerado biologicamente inútil, portanto impuro, agora unia as almas com seu grude e beleza cor-das-asas-dos-anjos. Os vestígios de amor produzido por hormônios puramente humanos logo seriam excretados junto a todo repugnante resto de matéria mal-aproveitada pelo organismo também humano, desprezada e enojada. Paradoxos da natureza: Porque iludir o ser com a paixão, fazendo-o depositar sua matéria em lugar que será excretada? Porque iludir o ser com o amor, levando-o a crer que está próximo ao divino, quando na verdade o inferno social o espera?
Cada um passou a amar ainda mais o ser pouco mais conhecido disposto à sua diante. Cada um passou a amar menos a si mesmo. Ambos conheceram o paraíso que é o objeto amado e temiam o inferno que viria pela frente ao voltarem à sociedade humana. Ambos sentiam-se, então, vermes.
Maria.
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
A Thousand Winds
Do not stand at my grave and weep,
I am not there, I do not sleep.
I am in a thousand winds that blow,
I am the softly falling snow.
I am the gentle showers of rain,
I am the fields of ripening grain.
I am in the morning hush,
I am in the graceful rush
Of beautiful birds in circling flight,
I am the starshine of the night.
I am in the flowers that bloom,
I am in a quiet room.
I am in each lovely thing.
Do not stand at my grave and cry,
I am not there. I did not die
Mary Elizabeth Frye
segunda-feira, 12 de julho de 2010
Certas vezes, me sinto triste. O que é bom... eu acho. Afinal, dedico esse tempo a minha escrita.
Certas vezes, provoco minha propria tristeza, na esperança de que aquela ideia que está cutucando minha mente saia de sua toca e flua em minhas mãos.
Certas vezes, fico feliz. E não existe ninguem na terra capaz de me tirar isso.
Certas vezes, fico brava. Aquela raiva esmagando meu peito. Aquele sentimento que nada está certo.
Certas vezes, sinto vontade de chorar, porem não o faço. Afinal podem me ver, e me julgar.
Certas vezes, sinto vontade de rir, e fico quieta. Com medo do julgamento.
Certas vezes, as pessoas gritam comigo, irritadas com minha lentidão, com meu autismo.
Certas vezes, eu grito com pessoas. Brava por elas não me ouvirem.
Certas vezes, sinto vontade de chorar, e choro. Sem vergonha das pessoas a minha volta.
Certa vezes, sinto vontade de rir, e rio alto. E que se foda meus vizinhos.
Certas vezes, vivo em um paradoxo temporal. Onde o tempo ri da minha cara ao passar lentamente.
Certas vezes, o tempo corre. E não consigo fazer tudo que quero.
Certas vezes, sigo as regras. Temendo o pior.
Certas vezes, quebro as regras. Desejando a punição.
Poucas vezes, faço sentido. Sempre falando em voz alta coisas que somente minha mente entenderia.
Muitas vezes, me expresso. Sem nem me importar com a cara que as pessoas farão ao ler.
-Jackie
terça-feira, 15 de junho de 2010
O desde
Minha querida,
Esta minha escrita não tem data. Na verdade ela é, algo assim, como um desde. Deveríamos ter essa opção quando tratamos de datas. Desde já, desde nunca, desde então.
Aliás, desde é uma palavra interessante. Desde que você existe, por exemplo, minha vida é cheia, intensa, linda. Você, no contexto dela, supre minha existência desde então.
No tempo presente, no futuro e, veja você, no tempo pretérito. Passado sem sua existência inexiste, é inimaginável, inconcebível, impossível. Desde começa e continua. Desde perpetua tudo. Desde que você acredite nisso, é claro.
Desde quando eu te amo? Desde que o tempo não tinha nem o desde.
Pode ser desde sempre?
A.C.
uma nova poeta se apresentando
Esta minha escrita não tem data. Na verdade ela é, algo assim, como um desde. Deveríamos ter essa opção quando tratamos de datas. Desde já, desde nunca, desde então.
Aliás, desde é uma palavra interessante. Desde que você existe, por exemplo, minha vida é cheia, intensa, linda. Você, no contexto dela, supre minha existência desde então.
No tempo presente, no futuro e, veja você, no tempo pretérito. Passado sem sua existência inexiste, é inimaginável, inconcebível, impossível. Desde começa e continua. Desde perpetua tudo. Desde que você acredite nisso, é claro.
Desde quando eu te amo? Desde que o tempo não tinha nem o desde.
Pode ser desde sempre?
A.C.
uma nova poeta se apresentando
segunda-feira, 7 de junho de 2010
Linda Rosa
Maria Gadu:
Pior que o melhor de dois
Melhor do que sofrer depois
Se é isso que me tem ao certo
A moça de sorriso aberto
Ingênua de vestido assusta
Afasta-me do ego imposto
Ouvinte claro, brilho no rosto
Abandonada por falta de gosto
Agora sei não mais reclama
Pois dores são incapazes
E pobres desses rapazes
Que tentam lhe fazer feliz
Escolha feita, inconsciente
De coração não mais roubado
Homem feliz, mulher carente
A linda rosa perdeu pro
cravo...
Pior que o melhor de dois
Melhor do que sofrer depois
Se é isso que me tem ao certo
A moça de sorriso aberto
Ingênua de vestido assusta
Afasta-me do ego imposto
Ouvinte claro, brilho no rosto
Abandonada por falta de gosto
Agora sei não mais reclama
Pois dores são incapazes
E pobres desses rapazes
Que tentam lhe fazer feliz
Escolha feita, inconsciente
De coração não mais roubado
Homem feliz, mulher carente
A linda rosa perdeu pro
cravo...
segunda-feira, 31 de maio de 2010
- Qual o seu nome?
- Meu nome?
-É.
- Não sei.
- Ué. Você não tem nome?
- Não.
- Então como te chamam?
- Numero 8.
- Isso não é um nome querida.
- Mas é assim que me chamam.
- Porque te chamavam assim? É horrível.
- Por que eu era a oitava garota a entrar na sala de teste.
- Isso faz de você uma cobaia.
- Todos nós somos. De um homem mais poderoso que ti. Ou de Deus.
- Ninguém podia ter te obrigado a participar de nada.
- É claro que podiam. Eles eram maiores e mais fortes.
- Querida, não quero que fique pensando nisso, você é uma sobrevivente, queremos te dar uma vida melhor, uma casa, um nome.
- Pois não se preocupem. Já tenho um nome. E uma casa.
- Um antigo hospício e número 8 não podem ser considerados isso.
- Então tá.
- Então decidiu qual o seu nome?
- Oito, senhor.
- Aihh. e lá vamos nós...
- Jackie
-
quinta-feira, 27 de maio de 2010
Dueto
Consta nos astros, nos signos, nos búzios
Eu li num anúncio, eu vi no espelho, tá lá no evangelho, garantem os orixás
Serás o meu amor, serás a minha paz
Consta nos autos, nas bulas, nos dogmas
Eu fiz uma tese, eu li num tratado, está computado nos dados oficiais
Serás o meu amor, serás a minha paz
Consta na pauta, no Karma, na carne, passou na novela
Está no seguro, pixaram no muro, mandei fazer um cartaz
Serás o meu amor, serás a minha paz
Mas se a ciência provar o contrário, e se o calendário nos contrariar
Mas se o destino insistir em nos separar
Danem-se os astros, os autos, os signos, os dogmas
Os búzios, as bulas, anúncios, tratados, ciganas, projetos
Profetas, sinopses, espelhos, conselhos
Se dane o evangelho e todos os orixás
Serás o meu amor, serás, amor, a minha paz
...consta nos mapas, nos lábios, nos lápis...
...consta nos Ovnis, no Pravda, na Vodca ...
-Chico Buarque
Eu li num anúncio, eu vi no espelho, tá lá no evangelho, garantem os orixás
Serás o meu amor, serás a minha paz
Consta nos autos, nas bulas, nos dogmas
Eu fiz uma tese, eu li num tratado, está computado nos dados oficiais
Serás o meu amor, serás a minha paz
Consta na pauta, no Karma, na carne, passou na novela
Está no seguro, pixaram no muro, mandei fazer um cartaz
Serás o meu amor, serás a minha paz
Mas se a ciência provar o contrário, e se o calendário nos contrariar
Mas se o destino insistir em nos separar
Danem-se os astros, os autos, os signos, os dogmas
Os búzios, as bulas, anúncios, tratados, ciganas, projetos
Profetas, sinopses, espelhos, conselhos
Se dane o evangelho e todos os orixás
Serás o meu amor, serás, amor, a minha paz
...consta nos mapas, nos lábios, nos lápis...
...consta nos Ovnis, no Pravda, na Vodca ...
-Chico Buarque
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