“?”, eu me pergunto.
E aguardo a resposta tênue do eco oco de minha solidão:
“Sonhei contigo. Dia desses.”
Espero que tenha sido bonito. “Tu te lembras?”
“Não.”
“Ah... Também comigo, nunca me recordo.”
Mentira. Lembro-me perfeitamente.
Era uma papelaria. Deus, por que raios uma papelaria? Não sei, mas também isso não importa. O que importa é que eu estava ali, e tu estavas ali também. E estavas linda, como não podia deixar de ser.
E te demoraste um pouco, ficando logo atrás de mim, com um leve sorriso nos lábios. Aquele sorriso que apenas tu consegues produzir com perfeição, sob as amêndoas de teus olhos tão profundamente escuros. Monalisicamente me observando. Segui meu caminho por entre as diversas prateleiras de cadernos capa-dura e brochuras, lápis e borrachas, pincéis e guache, lantejoulas e papéis de carta. Seguido por ti, minha sombra sorridente [e tão amada sem saber].
Ah, os sonhos...
Repentinamente, tu te atiras sobre mim, enlaçando-me o pescoço com teus braços suaves por sobre meus ombros trêmulos. E ali permaneceste, como uma criança em brincadeira, dentes alvos e brilhantes à mostra para meu mais sincero deleite. Neste abraço ficamos alguns instantes. Derreti, claro.
Então tu me olhaste com ternura...
Então tu te aproximaste de mim lentamente...
Então eu pude sentir seu hálito de hortelã roçando de leve no meu pescoço...
Então tu me deste um beijo cheio de calor bem perto da minha boca.
Fecho os olhos. Absorvo cada milímetro do seu toque, sinto [como se estivesse acordado] cada gota de paixão, cada grama de carinho, anexos aos seus lábios. Nada mais faz sequer um barulhinho, nada me atrai mais, nada é visível ou invisível aos olhos. Exceto minha rainha encantada delicadamente me abraçando. É tudo sonho... O melhor deles.
“Eu te amo.”
“O que você disse?”
Desperto de minhas lembranças com teus olhos questionadores. Não parecem tão apaixonados quanto em sonho. “Nada, querida. Nada.”
“Hm.”
Aquele abraço, eu nunca pude esquecê-lo.
Voss[o]
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