quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

sonhos




Ela era assim, diferente de todas.
Ela era,
e só era.








Enquanto outras preocupavam-se em parecer ser,
ela parecia,
e era.

E aparecia.

Para ela,
nada importava,
além de si
além de ser...

E um dia,
de tanto ser
percebeu que ser só não bastava
e quis serem...

Sermos, seremos
Seríamos,
Fomos,
Éramos...

E então, não foram.

Ela voltou a ser só;
ela, só ela era.
Era inteira!
Era incrível!
Era implacável!
Era irresistível!

E decidiu, simplesmente, ser;
Sem se importar se seriam com ela.
Mas os que quisessem estar,
seriam bem recebidos
Desde que estivessem
à margem do que ela era...
Rebeca

Sobre Anas

[Singela homenagem às Anas que eu tanto amo.]


Dentre tantos, há sempre um que se sobressai. Ou por beleza, ou por incomum inteligência, ou por autenticidade. Ou mais: por tudo isso. É claro que não é nem um pouco fácil encontrar uma dessas criaturas divinas, mas sabemos que elas existem em sua plenitude. Às vezes, encontrá-las é fácil: basta um olhar a leste que lá estão, brilhantes e polpudas de majestade. Bem mais difícil que isso é falar sobre elas.

Vocês, Anas, são assim.

Não são como as pessoas comuns, tão frágeis e dependentes. Uma Ana de verdade sabe se virar sozinha muito bem, obrigada. Enfrenta os desafios com destreza tal que impressiona os mais desavisados de seu poder. Medo nenhum consegue detê-la; medo nenhum faz suas mãos tremerem. Ah, de jeito nenhum. Suas mãos só tremem de ódio.

Espera lá. Não, não me refiro ao ódio sujo e desnecessário das pessoas comuns. É um ódio de Anas. Ódio de injustiças, de safadezas e impropérios. Ódio das maldades do mundo, que vocês repugnam com tanto fervor que chegam a eliminá-las do ambiente em que se inserem. Melhor para quem fica por perto. A oportunidade de adentrar a aura de uma Ana é única. Assim como a própria.

Sabe o que eu mais admiro nas Anas? O temperamento. Explosivas, de fato. Mas é isso que lhes dá força, a ânsia pela batalha nobre de cada dia. Afora os eventuais aforismos e desaforos, que afinal não são lá um pecado, Anas são delicadas e gentis, suaves como só. Seu toque reconforta, suas palavras ensinam, seu olhar hipnotiza. E me carrega para um mundo incônscio de sonhos azuladamente ensolarados. Aí, você me abraça.

O abraço de uma Ana é impossível. De não se sentir. De se explicar. Como se fosse necessário fazê-lo... Essa impossibilidade encantadora me atrai, gigantesco ímã, em sua direção. Irresistível. Inócua. Não há que fazer; apenas me entregar de corpo e alma a esse teatro de realidade fantástica. É o que faço.

E como não seria assim? Você é Ana. E eu, sou mais um apaixonado. Paixão por Anas é arrebatadora, infinita. Só quem já sentiu sabe. Não precisa seguir o bendito estereótipo de paixão carnal; basta sentir o coração rufando de ansiedade quando te vê chegando sorridente. Mais inocência e paz do que simples desejo. Mais saudades do que falta em si. É... Amar uma Ana é inevitável. Mas tão inevitável, que eu te amo.

E como seria de outro jeito? Sem a saciedade do seu Amor de Ana, nada tem a mesma graça. Sem a presença de Anas, a vida é parada. Porque esse é o jeito Ana de ser. Grandes, belas, sábias, doces. Únicas.

Soberanas.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Sinos badalam nas Olimpíadas de Vancouver. Uma freira reza sonolentamente seu terço às duas da tarde. Procuro minhas chaves no bolso. Bruscos átomos são rompidos em uma usina nuclear. O universo expande-se placidamente.

Terminou seu café da manhã: Bananas, pão com geléia de uva, suco de laranja (de caixinha, é claro), e uma xícara de chá. Comera demais. Atrasara-se para o serviço.

O ônibus das 08:15 fora perdido. "Tudo bem, pego o das 08:30 e saio mais tarde do serviço. Posso até almoçar enquanto trabalho para sair mais tarde a noite e pegar o jogo do Fluminense."




Uma mulher de voz gorda derrubara suas chaves no bueiro. Três gatos mansos ficaram presos em uma árvore. Um deles possuía pelagem castanha e olhos verdes. Surfistas competem em no Havaí, monges oram no Nepal.

Era meio dia e quinze, e estava quase terminando uma reportagem. Pensava ancioso em como seria o jogo aquela noite. Planejava comprar amendoins.

Almoçou em frente ao computador. Recebeu ordens superiores de corrigir um texto de um colega de trabalho iniciante. "Porque nao mandam o estagiario fazer um trabalho desses?" Iniciou o fardo a ele encarregado. "Quantos erros de pontuação."

Sete jibóias encontradas mortas nas margens do rio Prosa. Cientistas afirmam ser resultado da poluição. Apple promete lançar novo aparelho de celular até o final do ano. Um homem loiro entrou na loja de calçados mais próxima.

Acabara o expediente. Passara na tabacaria.

-Não, não vendemos amendoins, desculpe-nos.

Tudo bem, só esperava que seu time ganhasse. Pegou seu casaco, entrou no metrô. Já era tarde, o vagão estava pouco cheio. Uma velha malcheirosa sentou-se ao seu lado.

Desceu antes da estação desejada. Percebeu que não conhecia aquela região da cidade. Um arranha-céu parecia chamar-lhe para perto das estrelas.

Joana arruma as malas. Marcio pede para que ela não se esqueça de sua camisa branca. Células reproduzem-se por mitose em um pedaço de carne apodrecida. Um homem joga-se da da cobertura de um arranha-céu em uma noite estrelada. Um leitor nada conclui a respeito de uma leitura feita.


Maria.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Dona

Ela era assim, diferente de todas que ele já tinha conhecido. Da primeira vez em que a viu ele sabia, ela era algo mais, algo melhor.
Ela não olhava direito para ele, não por desprezo mas sim por medo. Medo de não ser correspondida. Tinha paúra de demonstrar o quando o queria e não ser fitada da mesma forma, com o mesmo calor.
Tocou no braço dela gentilmente com as mãos desejeitadas e trêmulas, uma frase ensaiada na cabeça, uma dose de vodka que ainda armagava a garganta para dar coragem... Ela hesitou em olhar para trás, o suor frio corria por suas temporas e era como se um milhão de borboletas voassem por debaixo de sua branca tez.
Gaguejaram. Os dois. Sem saber o que dizer ou mesmo o que fazer... as palmas das mãos suavam, as pernas bambeavam, a tensão entre eles era tão grande e tão obvia que todos ao redor podiam ver que algo estava para acontecer naquele canto, com aqueles dois temorosos quase-amantes.
A moça quase desfaleceu nos braços do rapaz, quando ele a trouxe para perto e envolveu seu corpo todo no dela era como se a vida finalmente tivesse sentido, ele sabia que nascera para ficar atracado com aquela pequena.
Uma vez juntos todo o desespero sumira, dando lugar a uma divina sensação de conforto e alívio que imediatamente foi substituída pelo desejo.
Um fogo ardia entre eles e de longe se via que não seria facil separar os lábios dele dos dela.
Marcha pra dentro do salão uma mulher vestida com trajes longos e discretos, discretos demais para sua idade, longos demais para o clima local... sem olhar para os lados nem pestanejar ela se dirige ao recém formado casal e abruptamente crava as unhas negras nas costas do despreocupado amante. Ranca-o dos beijos de sua doce e imponente parceira, lembra-o de todos os seus erros, suas impurezas, suas falhas... lembra-o de que ele não merece estar ao lado daquela moça e de suas graças; penosamente arrastou-o para perto e rindo-se apontou para a chorosa moça, a dona do coração daquele errante apaixonado. Zombeteira como ela só, anunciou à todos que ganhara da novata e que o rapaz estava agora sob seu domínio.
Dona, assim se chamava. Dona dos corações alheios, dona das graças e das paixões, dona dos dias e das noites. Dona dele. Dona segurou o pranto, tentou manter a pose e não desmanchar-se ali em público, mas todos sabiam que por dentro ela estava um caco, menos que isso, uma caca.
Ele fingia não se importar, dançava com todas, ria de tudo, bebia muito, fumava bastante. Ele não mais olhava pra ela e nem mostra arrependimento... e ela, em frente a tudo isso, se doia, se roia, se contorcia.
Queria muito entender o que há numa palavra nas palavras pequenas que as fazem tão cortantes. Só, quando a tal palavra 'só' se aproximava trazia com ela a imensa palavra solidão. Dor, tão mínima e tão ferina, deixava seu coração dolorido. Fé, que trazia esperanças falsas e com ela desapontamentos infinitos. Fim, que carregava consigo uma infinidade de frases não ditas de algo mal resolvido.
A quase tudo que vivia arrumava um jeito de atrelar algo de penoso, mas a tudo que pensava ser penoso viu o quanto era rico... e o quão esperta ela se tornara depois de sua grande decepção.
Ele nunca superou tê-la perdido. Nunca superou o medo de ferir seu orgulho e tomar sua Dona de volta.
Ela fez dele uma memória, nada mais que uma lembrança do passado, um aprendizado. Ela... já não pensa nos erros, ela agora se concentra nas lições.
Ele parou no tempo. Ela voou para o amanhã.
Ele é da moça ruim. Ela não é de ninguém, é Dona de sua própria vida.
E quem um dia irá dizer que existe razão?

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Eu costumava ter você ao meu lado.
Eu costumava sentir você dentro de mim. E era maravilhoso sentir nossos dois corações batendo juntos.
Eu costumava sonhar acordada.
A realidade surgiu, porem, com verdades arrebatadoras.
O silencio, a solidão tomando conta dos meus dias.
A cama fria me acompanhando pela noite.
Eu costumava chorar, desejando o seu calor, o seu coração.
Porem eu me acostumei.
Eu me acostumei a não contar com ninguém.
Eu me acostumei a ouvir somente o som do meu coração.
Eu me acostumei a viver no pesadelo.