sábado, 13 de fevereiro de 2010

Dona

Ela era assim, diferente de todas que ele já tinha conhecido. Da primeira vez em que a viu ele sabia, ela era algo mais, algo melhor.
Ela não olhava direito para ele, não por desprezo mas sim por medo. Medo de não ser correspondida. Tinha paúra de demonstrar o quando o queria e não ser fitada da mesma forma, com o mesmo calor.
Tocou no braço dela gentilmente com as mãos desejeitadas e trêmulas, uma frase ensaiada na cabeça, uma dose de vodka que ainda armagava a garganta para dar coragem... Ela hesitou em olhar para trás, o suor frio corria por suas temporas e era como se um milhão de borboletas voassem por debaixo de sua branca tez.
Gaguejaram. Os dois. Sem saber o que dizer ou mesmo o que fazer... as palmas das mãos suavam, as pernas bambeavam, a tensão entre eles era tão grande e tão obvia que todos ao redor podiam ver que algo estava para acontecer naquele canto, com aqueles dois temorosos quase-amantes.
A moça quase desfaleceu nos braços do rapaz, quando ele a trouxe para perto e envolveu seu corpo todo no dela era como se a vida finalmente tivesse sentido, ele sabia que nascera para ficar atracado com aquela pequena.
Uma vez juntos todo o desespero sumira, dando lugar a uma divina sensação de conforto e alívio que imediatamente foi substituída pelo desejo.
Um fogo ardia entre eles e de longe se via que não seria facil separar os lábios dele dos dela.
Marcha pra dentro do salão uma mulher vestida com trajes longos e discretos, discretos demais para sua idade, longos demais para o clima local... sem olhar para os lados nem pestanejar ela se dirige ao recém formado casal e abruptamente crava as unhas negras nas costas do despreocupado amante. Ranca-o dos beijos de sua doce e imponente parceira, lembra-o de todos os seus erros, suas impurezas, suas falhas... lembra-o de que ele não merece estar ao lado daquela moça e de suas graças; penosamente arrastou-o para perto e rindo-se apontou para a chorosa moça, a dona do coração daquele errante apaixonado. Zombeteira como ela só, anunciou à todos que ganhara da novata e que o rapaz estava agora sob seu domínio.
Dona, assim se chamava. Dona dos corações alheios, dona das graças e das paixões, dona dos dias e das noites. Dona dele. Dona segurou o pranto, tentou manter a pose e não desmanchar-se ali em público, mas todos sabiam que por dentro ela estava um caco, menos que isso, uma caca.
Ele fingia não se importar, dançava com todas, ria de tudo, bebia muito, fumava bastante. Ele não mais olhava pra ela e nem mostra arrependimento... e ela, em frente a tudo isso, se doia, se roia, se contorcia.
Queria muito entender o que há numa palavra nas palavras pequenas que as fazem tão cortantes. Só, quando a tal palavra 'só' se aproximava trazia com ela a imensa palavra solidão. Dor, tão mínima e tão ferina, deixava seu coração dolorido. Fé, que trazia esperanças falsas e com ela desapontamentos infinitos. Fim, que carregava consigo uma infinidade de frases não ditas de algo mal resolvido.
A quase tudo que vivia arrumava um jeito de atrelar algo de penoso, mas a tudo que pensava ser penoso viu o quanto era rico... e o quão esperta ela se tornara depois de sua grande decepção.
Ele nunca superou tê-la perdido. Nunca superou o medo de ferir seu orgulho e tomar sua Dona de volta.
Ela fez dele uma memória, nada mais que uma lembrança do passado, um aprendizado. Ela... já não pensa nos erros, ela agora se concentra nas lições.
Ele parou no tempo. Ela voou para o amanhã.
Ele é da moça ruim. Ela não é de ninguém, é Dona de sua própria vida.
E quem um dia irá dizer que existe razão?

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