Magali que não me escute, mas confesso minha paixão por melancias. Desde criança essa gigantesca e saborosa fruta me delicia. Não apenas pelo doce aguado que fica na boca, mas também por que não há diversão maior do que catar os carocinhos perdidos em uma imensidão de polpa. Bobeira, não? Mas todo mundo tem uma bobeirinha assim. Aparentemente insignificante, minha inocência de criança trouxe valiosos ensinamentos durante o café da manhã.
Em um desses dias em que acordamos inspirados, dispostos a inalar poesia, tive uma percepção incrível. Como melancias são educativas! Meu indefeso alimento se mostrou extremamente similar à minha aguada e insignificante vida. Explico: é fato que meu dia-a-dia não é cheio de surpresas e emoções- por isso aguado. Por outro lado, parece perfeito, previsível e... redondo.
Embora entediante, e um pouco sem gosto, percebi minha existência é bem mais açucarada se comparada aos limões ingeridos pelos miseráveis espalhados pelo mundo. Limões invisíveis, já que - caso fossem reais- faminto nenhum negaria. Porém, mesmo assim limões, pela azedura e pequenez. Não obstante, quão arisca deve ser a vida de altos executivos. Cheis de pompa, coroam-se como abacaxis , sem se importar com os espinhos de seu atribulado serviço.
Ah! Como adoro melancias! São grandes e espaçosas a ponto de poder guardar todos os sonhos que tento realizar. Por fora são verdes, pregando esperança aos espectadores de sua circular formosura. Por dentro, doces.
Sigo então minha vida-melancia, atenta aos caroços problema que permeiam meu espírito. Talvez hoje tenha descoberto o segredo da felicidade: encontrar diversão em catar pontinhos pretos, sem deixá-los tirar o sabor e a doçura da vida.
Rebeca B.
''Se procurar bem você acaba encontrando. Não a explicação (duvidosa) da vida, Mas a poesia (inexplicável) da vida''
ResponderExcluirE você a encontrou em uma simples melancia! Imagina o que faria com uma quitanda inteira?
;D
cecília