sexta-feira, 15 de maio de 2009

algo sobre desespero

Inconfessáveis segredos de uma carta não enviada.

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Meu amado, respeito sua decisão embora a odeie com todas as forças que possuo, com o âmago mais visceral da minha quase-alma...
Ainda assim, há certas coisas que eu preciso lhe falar... há certas coisas rasgando minha garganta, pedindo pra virar voz... pedindo pra esbofetar suas bochechas rosadas e te cobrir de beijos.
Ouça.

Apesar da agonia de nunca ter meus abraços te envolvendo, ou suas mãos descansando em minha cintura... apesar de desejar em vão que seus lábios possam tocar os meus, há algo estranho na paz que eu sinto em saber que você sempre será meu último pensamento antes de adormecer e o primeiro ao abrir os olhos na manhã seguinte.
A única garantia que temos é de estarmos certamente nos pensamentos um do outro, e por mais formidável que isso possa ser, me traz um desespero tal, que apenas palavras não poderão descrever precisamente.
O mais verdadeiro desespero que assola minha alma, aquele mais latente e ferino que posso experimentar é aquele provocado pelo medo de ter que viver a vida toda sem a luz dos seus olhos iluminando meu riso.
O que há de mais intrigante no desespero é, provavelmente, que ele é incapaz de existir por si só. Ele não pode simplesmente aparecer em nós sem motivos. O desespero demanda uma expectativa prévia, uma vontade primaria que ao se perceber a beira de um precipício cria um abismo emocional aterrorizante.
Embora dar um passo atrás seja, quase sempre, uma opção, geralmente não é uma escolha que nos apraz, e por vezes não conseguimos enxergar além da queda...
Mas eu fecho os olhos e me concentro. Minha idéia sobre eu-e-você é o que provê à minha pobre alma a coragem de seguir sua voz, minha guia, e quando me pedir para pular... eu confiarei em você para me pegar do outro lado; agora, nosso lado.
E nessa hora não haverá mãos que não podem tocar-se ou olhares que não possam encontrar-se. Então haverá eu e você e nenhuma mesóclise geográfica.

Pra sempre sua,
Olga Machado

e foi assim que encerrei a carta. Dobrei a folha ao meio... chorei.
segurei-a junto ao peito, talvez numa tentativa de juntar as partes que haviam se
desprendido do meu coração; ou talvez pelo medo que senti de minhas próprias palavras.
sei que o desespero foi tanto, que despedacei a carta, ateei fogo nas migalhas e vi nas chamas minha esperança carbonizada sublimar piamente... come se pedisse perdão, ou anseasse por uma segunda chance de existir.
não.
não.
não não e não.

isso não!
de novo não!
deixe em paz meu coração...
que ele é frágil já aqui, de tantas mágoas.
e qualquer desafeição, faça não.
é mais que uma gota d'água.

cartas de amor são rídiculas,
eu sei,
e este é o meu tempo,
e eu escrevo cartas de amor,
como as outras,
ridículas;
mas elas não seriam de amor,
se não fossem ridículas...
pois que sejam, então, patéticas
de tanto amor.

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O.M.

obs às pOetas:
como é bom estar de volta!
perdoem-me pela ausência.

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