sábado, 18 de julho de 2009

A Geração Lost

Discurso sem propósito.

Nós nunca seremos quem somos hoje, não seremos tão belos, tão cheios do que nos preenche tão plenamente. Não diremos amanhã o que dizemos hoje, não reagiremos da mesma forma que reagimos... Nenhuma dor doerá tanto quanto a presente, nenhuma saudade nos fará sangrar tanto, nenhum amor será maior, nenhuma decepção virá depois desta, nenhum vazio será tão triste quanto este que insiste em nos ocupar neste dia.
Todos os dias essa premissa será verdadeira, todos os dias seremos um novo alguém, um fugaz personagem que morre toda manhã para que outro assuma o centro do palco. Assim como nem mil cartas de amor explicam o amor melhor que um beijo apaixonado, nem todos os nihilistas russos reunidos saberiam descrever a sufocante sensação de vazio e desespero que sentimos quando o choro rompe o silêncio do quarto vazio.
A vida segue sem nós, o tempo escorrendo por nossas cabeças não espera que estejamos prontos para ele, corre como o rio para o mar, e chega aos pés antes que possamos sentir a deliciosa sensação que a água gelada provoca nos nossos corpos febris.
Algumas pessoas são obcecadas com o tempo presente, vivem ao máximo, divertem-se sem medir consequência, ferem-se e não se importam; outras se resguardam para o futuro, para um dia melhor, para uma possibilidade, para uma alegria futura. Nós não. Nós estamos perdidos em algum lugar no meio dessa confluência de idéias. Queremos a vivacidade do dia de hoje, o frescor da pele jovem, o entusiasmo infantil, mas queremos também fazer planos para a senilidade, queremos ter dinheiro para fazer um dia uma grande viagem.
Sentimos o ímpeto de devorar a vida com as mãos, engolir todas as guloseimas que estiverem sobre a mesa, saborear toda a variedade de quitutes e delícias exóticas... hesitamos. Pensamos na saúde, na estética, nos bons modos. Trazemos as mãos de volta ao colo, e pensamos. Pensamos. Pensamos. A vontade de fazer, a necessidade de parar. Os dois extremos, tão distantes quanto nossos próprios corações, que cravados no peito fogem ao encontro do ser amado. No fim... entre fazer e não fazer, sentir e rejeitar, nós nos vemos estagnados numa idéia, num furacão de ponderações.
Somos tão incapazes de encontrar o equílibrio de que tanto necessitamos. Queremos serenidade mas adoramos o caos. Não queremos ficar surdos, mas aumentamos o volume para sentir a bateria batucando por dentro de nossos corpos. Queremos aproveitar o jantar, mas fechamos a boca em respeito às calorias.
Estamos perdidos. Queremos muito e não fazemos. Fazemos demais e estragamos tudo. Não temos líderes nem heróis. Não temos uma luta. Não erguemos bandeiras. Dormimos e não descansamos. Sonhamos durante a vigília. Fazemos tudo errado.
Perdemos tempo falando sobre perder tempo. Assistimos nossas aspirações fugirem ao nosso alcance e nossas esperanças voarem com o vento. Ainda assim, estamos parados. No caminho para algum-lugar esquecemos pra onde estávamos indo, e não nos recordamos do caminho de volta. Necessitamos ajuda e não a pedimos.
As maçãs do rosto começam a murchar, os pensamentos vívidos vão perdendo cor pouco a pouco, a areia do tempo já chega aos nossos joelhos e nós ainda estamos absortos dentro de nossa própria existência, ensurdecidos com o som do desconhecido silêncio... a vida tenta nos despertar e nós continuamos aproveitando cinco minutinhos a mais. Até quando?
Somos um projeto que falhou. Reconhecemos o erro mas não sabemos conserta-lo. Talvez não queiramos arrumar tudo o que está errado, talvez gostemos do estado permanente de crise... quem sabe nos sentimos confortáveis em tempos de instabilidade.
Corremos em direção uns aos outros, tropeçamos, trombamos, batemos, esbarramos, estamos conscientes disso, mas precisamos sentir o toque. Queremos sentir que estamos todos aqui. Nos é vital saber que o sanatório não está vazio, que ainda que o mundo nos rejeite, nós acolhemos uns aos outros e que continuamos aqui. Sempre aqui.
Vamos de mãos dadas, já não faz sentido andar sozinho. Se vamos todos cair, então que caiamos juntos... de mãos dadas o medo parece não importar, eu não vou fechar os olhos, mas se quiserem fechar os seus eu cuido de contar-lhes tudo o que desaba a nossa volta.
O mundo gira tão rápido e a caneta agora treme em minhas mãos. Apague a luz! Shhhhhh. Eles estão voltando. Shhhhhhhhhh.

Arbórea da Silva Sauro

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