Para ler ao som de rèverie, C. Debussy.
Molhou, então, os pés no mar. E eu ali, sentado no posto onze, esperando das areias do Leblon respostas. O morcago tinha os cabelos compridos e cortados à navalha. A lua iluminou sua pele alva e o vento soprou a longa franja para longe do rosto. Logo depois os fios pretos, de nylon negro, voltaram a cobrir metade de sua face.
E eu ali, esperava das ondas paz. Elas sussuravam um cochicho mudo que o garoto parecia entender. Seus olhos escuros e rígidos feito ébano, excessivamente pintados de uma maquiagem gótica, eram fixos nas águas profundas e irritadiças. Enquanto isso minha mente flutuava pela massamorda lembrança da rotina no escritório, flertava com a secretária, caía em poços de processos e revirava todos os meus desgostos.
O menino deu um passo a diante. Reparei que suas pulseiras de dadinhos coloridos não combinavam com a figura densa, vestida de preto que as carregava. Nem tampouco o piercing cor de rosa fez sentido preso na orelha branca de um jovem rapaz. Lembrei de quando minha filha resolveu praticar motocross, um esporte tão agressivo! " Os tempos mudaram, papai..."
O barulho dos carros e de meus pensamentos me impedia de perceber o que aconteceria na noite daquele dia aziago. Os passos eram firmes em direção ao oceano. Quando seus joelhos tocavam a água salobra, ele parou e disse ao ar: "É assim que se consumam todos os votos, todas as esperanças de minha vida, todas! Quero bater, gelado e rígido, à porta de bronze da morte!"
Só então me dei conta do acontecimento insólito e tétrico que presenciava. Então assisti àquele Gilliatt lençar-se ao mar; já era tarde demais para salvá-lo.
A figura negra pulou naquela banheira de lágrimas e foi se dissolvendo. Uma mancha de petróleo se desfazia no horizonte...Afundou lentamente e o cantarolar de melodias do Evanescence parou de súbito.
rebeca
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