Corpo difuso que vira abstrato em espelho. Uma taça de vinho que chora em um canto, cinzeiro transbordando em cinzas. A chuva dança sobre os vidros da janela, os lençóis estão amassados em um canto, o som velho arranhava alguma canção de Neil Young, enquanto ela observava o ventilador rangendo no teto, e ele dormia como uma criança. Levantou-se em busca de um sentido, no quarto iluminado apenas por um abajur velho. Deu alguns passos e notou uma frase na parede “não, solidão, hoje não quero me retocar”. Continuou dando voltas nas pontas dos pés enquanto lia cada frase solta na parede. “Suas ilusões vão te destruir, destruir, destruir”, e o quarto dava voltas, e o mundo instantaneamente tornou-se um só, de súbito veio o sufoco, a agonia, os pés perdem o próprio equilíbrio, a chuva pára a própria dança, os lençóis mudam de lugar, uma canção com guitarras pesadas começa, o cinzeiro vira cacos, a taça volta à sua posição original, o quarto passa a exalar cheiro de roxo, o espelho reflete um corpo que descansa inconsolável sobre o carpete velho.
"não, solidão, hoje não quero me retocar.."
Anne Pearson
domingo, 1 de março de 2009
Sufoco
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Surrealismosimbolistamodernista. Único!
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