terça-feira, 31 de março de 2009

O piolho

Sua morada, um mar de cabelos. Ele anda a se esconder entre as mechas longas; um incômodo, um forasteiro em terras inimigas. A mão suave procura a origem da coceira e ele salta habilmente para fugir do perigo. Adere-se, então, a terra-couro cabeluda para não cair, enquanto as falanges friccionam a pele sob os fios compridos. As placas brancas caem no ombro do hospedeiro; são caspas, aspas de cada preocupação que passeia em seu pensamento.
Ele, o inseto, tão odiado. Ele sofre com seu hostage, mesmo sem que este saiba disto. Cada dor de cabeça chacoalha suas seis patas e duas antenas como se fossem cordinhas de marionete. Para ele, o mal visto parasita, as enxaquecas são terremotos intensos. Tremores de terra que quase o derrubam entre as placas tectônicas. Se não houvesse pele entre suas delicadas patinhas e os grandes blocos parietais, o pequeno transeunte se afogaria em lava de neurônios em revolução.
"Ah, digno locatário de habitação tão confortável! Por que se preocupa tanto assim?", pergunta o bichinho. "Que há no mundo dos humanos que mereça suas cefaleias tão freqüentes? Quanto tempo demorará para que termine de pintar minhas paredes de branco? Será que você não entende? Tenho sono, tenho filhos que sentem sono. Pare com essa trepidação antes que meus pequeninos lêndias caiam em alguma fissura temporo-occipital!".
Mas os homens não conversam com insetos. E seguem a atrapalhá-los e a se atrapalhar com problemas por vezes dispensáveis.

hallmark

3 comentários:

  1. UOU!
    fissura temporo-occipital? cefaleias? hostage?
    alguém me mande um dicionário!


    Adoreeei!
    C.

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  2. É, nessas horas eu penso: Eu queria pensa assim..

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