Sinto um movimento inquieto dentro de mim. Um bater de asas irritadiço... Uma figura estranha a jogar seu peso contra as paredes do meu corpo. Não há uma sequer fresta por onde escapar. Meu corpo está fechado, bem como meu espírito, bem como a bomba instalada do lado esquerdo do meu peito. O bater compassado se confunde com o debater de asas formando um som ritmado. Tum-dum-ta-ta-tu.
O espelho tem estado doente. Bem reparei nas manchas roxas debaixo dos olhos da estranha que me imitava indecorosamente. Doença grave... não achei em meu histórico diagnóstico plausível. Tum-dum-ta-ta-tu. Alguns exames reconhecem um animal a sugar meu sangue. Mas não o culpo, ele precisa de alimento. Talvez seja melhor manter o monstrinho dentro de mim - ao menos não esvazio de tudo.
Tum -dum-ta-ta-tu. Dia desses tossi um pedaço de asa preta. Imagino o que aconteceu com a criatura das sombras que me faz de abrigo. Morta não está, ainda ouço o batuque. Tum-dum-ta-ta.
Começo a cansar da ansiedade causada por tão inconveniente hóspede. Penso em abrir um espaço para deixar voar livre esse sugador de sangue, mas há cadeados nas saídas. Contudo, desisto fácil... Também não quero ficar sozinha...
Apesar de ainda ouvir as pancadas, sinto que a frequência diminuiu. Será que o cansaço contagiou minha companhia? Tum-dum -ta. Sinto-me tão frágil agora que posso sentir saudades. Tão indefesa quando a ausência de raiva me deixa sentir medo. Tão fraca quando o ciúme é uma dor e não mais uma quiropteropatia a sugar minhas forças...
Um morcego branco invadiu minha alma. Dúvida do cotidiano: existem morcegos brancos?
r.a.b.
boa dúvida. Existem?
ResponderExcluirMe impressiona com a capacidade que a criatividade tem, ao fazer coisas tão belas!
ResponderExcluirAh, acho que existem morcegos brancos sim..
Louise